segunda-feira, 30 de março de 2009

Amanhã tem...




Ao meio dia, no CCBB pelo projeto Caminhos Poéticos da Canção.

A campanha continua




Na noite do dia 28 de março aconteceu o movimento contra o aquecimento global, A Hora do Planeta. A campanha pedia simplesmente que por uma hora (de 20:30 às 21:30) fossem desligadas as luzes da sala de sua casa.

Da janela da minha casa ouvi algumas pessoas gritando “hora do planeta, vamos apagar a luz aí porra!!!”. E vi umas 20 janelas de casas funcionando como em qualquer dia. Televisões, computadores, luzes... Tudo funcionando.

Mas confesso... Senti-me mais incomodado com a gritaria do que com a alienação das pessoas. Mais que um ato contra demência urbanóide, eu senti que aquela uma hora simbólica representava muito mais a possibilidade de cada pessoa informada e conscientizada parar por uma hora de ficar “acesa” no mundo. Uma hora que pudéssemos parar para pensar no mundo, na vida, nos nossos atos. Um momento de pedir silêncio a nós mesmos.

Enfim, percebi que é, de fato, muito caro ao mundo a ideia de silenciar-se por uma hora. Carros não paravam de andar, televisões ligadas divulgando suas besteiras, mais jogos de futebol, mais cervejas no bar... Parece que a maior dificuldade atual é a conscientização universal de que o mundo é uma grande comunidade onde todos devem ajudar aos outros, esse é o combustível. A individualidade das pessoas e dos grupos leva todos a uma completa falta de percepção das reais necessidades do universo.

De qualquer modo, a luta continua.

WWF

sábado, 28 de março de 2009

Romulo Fróes




É muito difícil gostar da figura de Romulo Fróes, sobretudo da autopromoção do rapaz. Em geral, quando leio coisas que ele fala ou escreve sinto um Q de delírio ou desespero:

“Não gosto de coisas por diversão. Esse negócio de dizer que um disco foi feito sem pretensão não dá. Meu objetivo é ser o maior artista brasileiro de todos os tempos, abaixo do Tom Jobim.”

Ontem de noite, resolvi, depois de ouvir muita coisa pelo Myspace, baixar o disco novo dele No Chão, Sem o Chão. Confesso, surpreendeu.

No entanto, no disco um (sim, é um álbum duplo), Cala Boca Já Morreu, que a intenção do paulista foi dar mais liberdade para ótima banda que o acompanhou (Fábio Sá – baixo; Guilherme Held – guitarra; Curumin – bateria), muitas vezes a canção e o jeito de cantar e tocar de Romulo soa descolado da roupa roqueira que a banda dá. Por muitas vezes, aguarda-se ansioso pelo solo de guitarra...

Romulo, ficou conhecido como um sambista. Eu na verdade, nunca ouvi samba ali, como nunca ouvi samba em Marcelo Camelo. Ouço o traço peculiar que a canção no Brasil desenvolveu. A ideia, já antiga, de vestir a canção brasileira com guitarras tem sido uma constante no cenário. Caetano viu isso e fez a coisa soar bem (em breve Zii e Zie nas lojas, ou nos blogs). Mas muitas vezes a guitarra como símbolo de rebeldia contra a canção, a brasilidade, soa imaturo. E é isso que muitas vezes aparece no disco um...

No disco dois, Saiba ficar bem, o jeito paulista de compor aparece bem claro. Ouve-se mais Romulo e menos banda (afinal, era esta a intenção dele). E aí dá pra sacar quem é o cara. As canções são bonitas, muitas delas, muito bonitas, bem feitas, fluidas.
Tudo muito simples. E aí que Romulo não consegue se medir. A música dele é bonita por que é simples, e sua pretensão é feia pra burro. Enfeia sua música...

O que sobra? Uma banda muito boa, bons letristas e simplicidade. Como seria bom que Romulo aprendesse a deixar de tentar ser ambicioso...


Romulo Fróes - Myspace


Baixe!

Calado (2004)

Cala Boca Já Morreu (2009)

Saiba Ficar Quieto (2009)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Chegou no meu Reader.




Parceria MinC e MCT

do Ministério da Cultura - MinC de Clelia Araujo/Comunicação Social


Internet de altíssima velocidade, digitalização do banco de conteúdo audiovisual brasileiro, desenvolvimento de tecnologia para a conservação e o restauro da pedra utilizada nas esculturas barrocas e a veiculação de conteúdos científicos na Revista de História da Biblioteca Nacional são as principais ações conjuntas a serem desenvolvidas no acordo de cooperação técnica a ser assinado entre os ministérios da Cultura e da Ciência e Tecnologia.

O secretário executivo do Ministério da Cultura (MinC), Alfredo Manevy, apresentou os termos do acordo na 5ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), realizada no Hotel Carlton, em Brasília, entre os dias 24 e 25 de março.

O acordo estabelece as bases de cooperação no uso da moderna tecnologia para a preservação e difusão dos acervos culturais e tecnológicos de ambos os ministérios. Já vem sendo implementado desde outubro de 2008, quando foi publicada portaria interministerial definindo as diretrizes da integração das ações entre MinC e MCT.

A assinatura do termo de cooperação estava prevista para ocorrer durante o encontro do CNPC em Brasília, mas ficou para ser firmado em outra data, porque o ministro do MCT, Sérgio Resende, não pode comparecer.

Ao apresentar o acordo de cooperação técnica aos conselheiros do CNPC, o secretário Alfredo Manevy falou sobre a importância do uso das novas tecnologias na ampliação do acesso da população aos bens e serviços culturais. Ele citou, como exemplo, a digitalização do valioso acervo da Cinemateca Brasileira que tem em seus arquivos a memória da produção cinematográfica nacional, filmes que hoje não estão disponíveis ao grande público.

Outro exemplo apresentado foi a da utilização dos serviços da Rede Nacional de Pesquisas (RNP) nas instituições culturais do país. São serviços de internet banda larga, utilizados em parceria pelos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia, que permitem a difusão em alta velocidade dos conteúdos digitais. Após a celebração do termo de cooperação técnica entre o MinC e MCT, passam a incorporar, também, as divulgações da área cultural.

Manevy explicou que a utilização da rede vai permitir a interseção eletrônica de todos os serviços das instituições do MinC, com banda larga de altíssima velocidade, além do uso de serviços de teleconferência em todo o território nacional. Ele salientou, no entanto, que o maior ganho com a adesão à rede será a digitalização do acervo cultural, pois irá disponibilizar na internet o conteúdo cultural que hoje se encontra esquecido nos arquivos e galpões do Sistema MinC.

O engenheiro Nelson Simões, representante da RNP, informou que a rede tem três atribuições principais, que são: a pesquisa e o desenvolvimento de novos serviços na internet; a realização de novos fluxos de aplicações em alta definição, como nas transmissões da televisão digital; e a articulação das áreas de Ciências Sociais e Cultura.

Informou, ainda, que a rede está iniciando um projeto piloto de difusão dos conteúdos culturais em língua portuguesa, interligando importantes serviços públicos de Cultura no país, como a Biblioteca Nacional, a Cinemateca, a Fundação Nacional de Artes (Funarte), entre outros, a uma velocidade de transferência de dados pouco conhecida no país, de 1 GB por segundo. “Para se ter uma idéia do que estou falando, está valor é maior 10 mil vezes do que a capacidade da internet banda larga de uso doméstico”, comentou.

Algumas coisas que andam rondando minha cabeça




Resiste no Brasil uma estranha falta de relação com a memória (na sua acepção histórica e formadora de identidade nacional). No sentido de que um povo existe pelo conjunto de símbolos que ele coleciona, parece-me que no Brasil convivemos com uma dicotomia.

Sinto-me profundamente seduzido pela ideia de que a estranheza na formação do Brasil conferiu atributos à necessidade do esquecimento.

“(...) o Brasil é um nome sem país. Os colonizadores ingleses deixaram a impressão de ter roubado o nome geral do continente para o país que fundaram. Os portugueses não parecem ter chegado a fundar um país propriamente, mas deram um jeito de sugerir que não aportaram a uma parte da América e sim a uma totalidade absolutamente outra a que chamaram Brasil.” (Caetano Veloso - Verdade Tropical. Pg. 14)

No entanto, desde que a modernidade chegou por aqui com suas “obrigações globalizantes”, a necessidade de adquirir memória tornou-se urgente.

Ao admitir que é iminente uma democratização por meio dos diferentes aparatos socioculturais nos países de terceiro mundo, admite-se também, a necessidade de ‘formulação da memória’.

Passeando pelo site Slow Food Brasil, percebi o quanto isto vem acontecendo e quanta gente está envolvida. Mais do que um movimento contra o projeto urbanóide e corporativista de vida e, por conseguinte, de alimentação, estas pessoas buscam reatar noções básicas do trato com a vida. Um trabalho quase antropológico com forte eco na discussão sobre formação de identidades nacionais. Sempre achei absurdo que não houvesse uma ampla pesquisa no Brasil com relação à comida, ao artesanato, aos diferentes fazeres que geraram a longa existência de comunidades e povos.

Trabalho semelhante, um tanto mais político e, até mesmo, engajado, é o de Vandana Shiva, a ecofeminista, figura central no movimento antiglobalização e ativista ambiental da Índia. Ela é diretora da Research Foundation for Science, Technology, and Ecology, em Nova Déli, segundo ela "um nome muito longo para um objetivo muito humilde, que é o de colocar a pesquisa efetivamente a serviço dos movimentos populares e rurais, e não apenas fazer de conta que estamos ajudando-os". Entre suas atividades mais recentes, incluem-se iniciativas de ampla divulgação para a preservação das florestas da Índia, luta em favor das sementes como patrimônio da humanidade e programas sobre biodiversidade dirigidos a diferentes coletividades, além de pesquisas para o desenvolvimento de uma nova estrutura legal para os direitos de propriedade coletivos, como alternativa para os sistemas de direitos de propriedade intelectual atualmente em vigor.

Putz! Que trabalho! Vale a pena conhecer:

*Slow Food Brasil.


* Research Foundation for Science, Technology, and Ecology

terça-feira, 24 de março de 2009

Dos Novos Tempos e a Outra Cidade

artigo feito por mim para a revista MP3 World

Para entender o que está acontecendo na música feita no mundo em 2008, é necessário despir-se de um intrincado jogo de sensos e conceitos de produção, veiculação, composição e entendimento de música. Aquilo que entendíamos como barreiras artísticas, profundamente demarcadas e intransponíveis, se formaram, em nível ideológico, numa esfera virtual e, devido a isto, não mais se definem por limites e obstáculos, mas por quanto são passíveis de invasão.

Em Minas Gerais, a geração que vem surgindo é reflexo dos questionamentos formados por nosso jeito de agir, pensar e produzir cultura. Uma geração que prevê legitimar-se, recriando e buscando ânimo nas incursões aos universos alheios. Diferentemente de cariocas e paulistas, o mineiro entende a produção de cultura, de uma maneira bastante peculiar.

O Rio de Janeiro está atrás de restaurar a tradição e impor certos valores a ela, em busca de revitalizar uma cultura que nunca morreu, seja esta o samba ou o seu sempre estranho rock praiano. Neste sentido, prefiro mesmo o funk ou os transambas do Caetano, despreocupadamente interessados na real tradição carioca.

Em São Paulo, a excelência em reproduzir modelos, cansa. Mas acredito haver em Ricardo Teté, Danilo Moraes, Céu, Curumin, Grupo Grão, Eloá Gonçalves e, indo mais além, nos CJ’s paulistas, uma produção bem rica e, sobretudo, relevante no cenário artístico.

Desde Ary Barroso até o Clube da Esquina, Minas Gerais adotou o rigor como medida estética de produção musical. Seja formando grandes instrumentistas e compositores, seja produzindo Sepultura, Fernanda Takai ou Uakti, esta sempre foi a sua maneira de pensar, criar e fruir arte. No entanto, para perceber a identidade da nova geração, é necessário relembrar algumas épocas.

A capital mineira, Belo Horizonte, sempre foi palco para a união de vertentes e pessoas muitos distintas, que, por algum motivo, sempre conviveram entre si. Nos anos 80 e 90, a produção de rock em BH, fortemente estimulada pela Cogumelo Records, ultrapassou o território brasileiro e virou influência até na gringa (vide Sepultura). Juntos, músicos de jazz e MPB apresentavam o seu repertório e tentavam renascer o Clube da Esquina. Em uma direção oposta, mas num mesmo âmbito, o boom de bandas POP invadiu Minas e, em seguida, a mídia (Skank, Pato Fu etc.).

Mais para o final dos anos 90, impulsionados pelo disco-manifesto do Milton Nascimento, “Tambores de Minas”, vieram agregar-se à salada musical os tambores de Maurício Tizumba, Tambolelê e Cia. Engrossando o caldo, havia ainda os representantes do cenário de música erudita contemporânea, que travavam uma luta antiga por espaço em BH.

É mais ou menos neste caldeirão que nasce uma produção muita intensa, de música calcada, sobretudo, na necessidade de produzir algo de qualidade. E é também deste mesmo caldeirão que nasce a necessidade de negar, inverter os processos e recriar uma nova outra cidade.

Alguns nomes importantes deste grupo mineiro são: Quebra-Pedra, Rafael Macedo, Constantina, Felipe José, Kristoff Silva, Makely Ka, Pablo Castro e a Banda dos Descontentes, Antonio Loureiro, Juliana Perdigão, Graveola e o Lixo Polifônico, The Dead Lover’s Twisted Heart, Transmissor, Pequeno Céu, Grupo Ramo, Misturada Orquestra e Madeirame (todos presentes no Myspace).

A grande característica desta nova geração é conceber uma produção realmente livre, que extravasa qualquer limite conceitual e, não obstante, apropria-se e usa destes mesmos limites como mote para criação.

Mergulhar na tradição e visitar territórios desconhecidos é tão necessário quanto almejar a novidade. São os novos tempos imersos em nossos estranhos e ocultos sentidos. E são os nossos sentidos ecoando e justificando o prazer de uma nova era.