terça-feira, 26 de maio de 2009

Zabé como Zumbi e Zeca

A impressão vívida e assustadora de morar no Rio de Janeiro é densamente justificada pela sensação de estar numa reserva natural do Samba.

O Rio de Janeiro, como uma criança pirracenta, vive uma constante necessidade de ser adulada. Culturalmente, a cidade vive um alongado e profundo remorso pela perda do status de capital federal e cultural do país. E, como que num ato de intensa loucura, junta os cacos de um complexo e desfigurado mosaico de profundas estruturas culturais de uma cidade perdida no século XX. Em suma, a necessidade de recriar o choro e o samba, de elevá-los ao ponto máximo de produção cultural brasileira, soa esquisito e desnecessário.

Alguns comentários:

1. No sábado estive em Belo Horizonte para visitar minha família. À noite, meus pais iriam ao show do Zeca Pagodinho no Chevrolet Hall e eu decidi me juntar a eles.
O show é muito bem produzido, musicalmente e esteticamente, o som, por incrível que pareça, estava muito bem equalizado e nítido. E a presença do Zeca, arraigada de uma cultura brasileira densa, de decisões claras e medidas, com um fortíssimo apelo popular, emociona. Na mesma medida que me emocionaria assistir a um show do Roberto Carlos.

No entanto, pareceu-me, enquanto assistia ao show, que via uma série de pequeníssimas colagens de retorcidos retratos cariocas de cultura. Um estranho flash-back, mas num tempo parado, como numa visão de um quadro. No fundo, o show pareceu-me uma pequena amostra de linhas evolutivas; a década de oitenta e a nova percussão ala Fundo de Quintal, a revitalização das antigas casas de gafieira na Lapa, as novas configurações carioca de samba que conferem ao “morro e ao asfalto” uma maior dependência, o pagode como romantização e popficação das estruturas semânticas e musicais do samba, etc. Tudo isto estava colado, e tudo isso estava parado no tempo, congelados num show do ser máximo do samba carioca. Talvez, por isso emocione.

2. O túmulo do samba se pronuncia





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terça-feira, 19 de maio de 2009

Sobre as águas no Nordeste




Esse negócio de catástrofe natural me assusta bastante. E o mais estranho é que, cada vez mais, contornar esta situação passa pelo critério pessoal de cada um que vive no mundo hoje.

Já há algum tempo venho lendo no blog do Greenpeace sobre as prioridades dos governantes mundiais com relação à crise financeira e crise climáica. Para os ativistas, a necessidade de se assumir uma postura sobre questões como o controle da emissão de CO2 é nítida e iminente. Houve, e continua havendo pelo mundo, manifestações contra a demora dos governos para um acordo climático justo e sólido, assim como a urgência das medidas para a sucessão do protocolo de Kyoto (no final do ano 200 países se reunirão na Dinamarca para a discussão).

Não sei até que ponto o argumento do Greenpeace é correto quando diz que as possíveis resoluções para a crise financeira estão atreladas às resoluções da questão climática no mundo. No entanto, se pensarmos no futuro, num futuro próximo, de fato, as questões financeiras estarão profundamente atreladas às questões do clima. E também, estou de acordo que é sempre melhor remediar.

De qualquer forma, este post não quer tratar sobre a crise financeira, nem sobre a sua relação com os fatores climáticos, etc.... Quer tratar dos irmãozinhos queridos do Nordeste brasileiro que vem sofrendo bastante debaixo daquela água toda.

Se você tem uma grana sobrando, ou algo do tipo...:


Estado do Rio Grande do Norte

Banco do Nordeste
Titular: BNB Solidário
CNPJ: 01.437.408/0001-98
Agência: Natal Centro (035)
Conta Corrente: 15.004-0

Estado do Piauí

Banco do Nordeste
Titular: BNB Solidário
CNPJ: 01.437.408/0001-98
Agência: Teresina - Centro (056)
Conta Corrente: 18.611-5


Estado do Maranhão
Banco do Nordeste
Titular: BNB Solidário
CNPJ: 01.437.408/0001-98
Agência: São Luis - Centro (059)
Conta Corrente: 27.093-5


Estado do Ceará – Campanha Força Solidária
Banco do Nordeste
Titular: Ajuda Humanitária Cruz Vermelha – Filial Fortaleza
CNPJ: 07.315.986/0001-38
Agência: 016
Conta: 29.393-8


Se não quiser ou puder doar dinheiro, você pode contribuir com alimentos e roupas. A lista completa de entidades que estão recebendo esse tipo de doação está aqui.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Antichrist



O novo filme do Trier que causou bafafá em Cannes.
Antes de tudo, o cara é um ótimo artista. E alguém que sabe lidar muito bem com a imprensa.


Mas... To com medo de ver...

Eu até tentei...




Eu liguei... mas todos os operadores estavam ocupados. Eram 09:43.
Tudo em cima.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

No Visgo.





Eu venho escrevendo bastante sobre música paulista nos últimos tempos. Na verdade, venho escrevendo sobre uma turma paulista mais focada na possibilidade de hibridação da canção por um viés mais pop. E é uma turma que me interessa bastante; que tem no seu trabalho o resultado de uma consciência (mesmo que inconsciente) profundamente colada à tradição sócio-cultural brasileira de fluxos migratórios caracterizados em larga medida por nordestinos-paulistas e mineiros-cariocas.

Penso que Rômulo Fróes, Mariana Aydar, Curumin, Tatá Aeroplano, estão para música atual como Árido Movie, Baixio das Bestas, Céu de Suely, dentre outros, estão para o cinema. Uma espécie de indigestão cultural, de atropofagia que deu errado e resultou numa esquisitíssima coleção de pequenos artefatos culturais. Um pouco de reggae com Japão-Pop, de rock-inglês com mangue-bit, de tecno-brega com música romântica. E o mais interessante é perceber que estes são um processo e resultado íntimos do pensamento atual paulista; e aquilo que de alguma forma brotou noutros lugares, como os +2 e o Do Amor no Rio, ou Mombojó e China em Pernambuco (que aliás são passíveis de outras análises) são resultado, muitas vezes, do seu encontro com SP.

Qualquer análise é, por necessidade, uma generalização dos fatos; uma simplificação. Colocar Céu e Rômulo Fróes no mesmo balaio dói até em mim (Inclusive, ultimamente, tenho pensado bastante em escrever um post sobre como o lançamento do disco Ventura do Los Hermanos –para muitos, esta análise deveria ser feita a partir do lançamento do Bloco do Eu Sozinho- possibilitou o nascimento do “samba com guitarras”).

De qualquer maneira, eu escrevi tudo isso somente para dizer que a figura brasileira atual mais representativa de um diálogo profícuo entre o traço que de alguma forma caracteriza o Brasil -e suas relações internas que revelam suas demarcações sociais e culturais- e os movimentos que geram cultura no mundo é a Céu.
E meu melhor argumento é este



Depois a gente conversa...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

The Perry Bible Fellowship






Putz! É genial!

Visitem: http://www.pbfcomics.com/

sábado, 2 de maio de 2009

Peixes, pássaros e pessoas... umas boas, outras ótimas... outras nem tanto




Quando ouvi Kavita 1 eu tive preguiçinha. Achei bonito mas repetitivo, sem sal, sem novidade. Mais uma cantora...
Mas, Peixes, Pássaros, Pessoas... Putz! Que disco bonito. Já há algum tempo que queria escrever alguma coisa sobre este disco. Enfim... Vai uma listinha -brega- comentada

Recentemente fui a São Paulo e coloquei este disco no player do meu celular. Depois de ler a merda do Estadão (que eu ganhei da Viação 1001), dormir, acordar, olhar pela janela, decidi ouvir o disco. Sem muita pretensão.

De cara um samba, Florindo (Duani Martins). Saco! Porque tanto samba? Mas o samba é bem bonito, muito bem interpretado (jeitão de Clara Nunes), tocado por uma formação tradicional de samba, mas bem tocado (com a exceção do Felipe Pinaud na flauta... Logo ele que manda bem...).

Quando eu imaginava que viria um disco de sambas, veio Palavras não falam. Uma salsa deliciosa, com cara, corpo e roupa de Orquestra Imperial. Ai eu saquei o dedão do Kassin abençoando a produção. A música é bonita, tem um suingue filha da puta, uma instrumentação moderna com Rhodes, guitarra, naipe, e a uma voz hiper madura da Mariana.

Para o meu deleite, Mariana convidou Mayra Andrade. Puta merda!! Que cantora!! (Se juntar a Mayra com Esperanza Spalding é bomba atômica na certa...) E a parceria não para aí. A música é de Rodrigo Campos e Luisa Maita. Pra mim a melhor música do disco. Música emocionante, emocionada e feminina. Com formação roqueira, com sintetizador... Só ouvindo.

Quando volta pro Duani... As coisas dão uma brochada... A música Aqui em casa é meio besta, meio ch’jovem... Mas é bem tocada pra caralho (aliás, as formações do disco são foda, a produção é muito bem feita (a parte Kassin, claro)).

A próxima, Pras bandas de Lá é muito boa. Ecoa Do Amor e +2 ali, viu!? Uma coisa de congelar e homogeneizar uma característica, um ritmo, uma fórmula e levá-la a exaustão até entortar. Essa música é um tecno-brega do Kassin. Essas coisas meio tecladão nordestino, meio vídeo-game que só o Kassin sabe fazer muito bem!!

De volta a Duani, Manhã Azul... Ok... Samba... Com harpa.

é genial!!!!! Uma música completamente simples. Parceria de Pedro Luís com a esposa e Carlos Rennó. Tem que ouvir. O Pedro é tipo Jorge Ben Jor; Pedra bruta.
Ah... Como sempre, Kassin destrói. Ele consegue achar o lugar da canção que ele pode entortar e faz com uma riqueza, uma beleza............... Kassin é rei!

Peixes do The Darma Lovers é genial! Antes de ouvir a canção com a Aydar é importante conhecer o Darma. Aí depois você entende porque um interprete é tão importante, tão artista, tão catalisador. A música é genial! A interpretação é secular...

Nada disso é pra você é bonita demais, viu!? E como canta bonito a Aydar. Música pra arrebentar o coração. Guitarra sacana nela...

Poderoso rei é tipo um samba-enredo ala Mineira. Bem bonita. Bem Clara Nunes.

O samba me persegue é do Duani... O bacana fica por conta da parceria com o Zeca (que, apesar de tudo, ta cantando meio mal, acho que o tom ficou meio alto pra ele).

Teu amor é falso... mais samba.

O disco fecha com uma canção Duani/ Nuno Ramos (o parceiro do Fróes), Tudo que levo no bolso . Parece canção dos discos da Gal nos 70. Bem bacana, ousado.

O que fica do disco? Uma cantora muito boa, muito esperta, com um puta potencial artístico e com um péssimo namorado (Duani). A (mais uma vez) consagração do trabalho (maravilhoso) do Kassin. Cirúrgico. E um disco-antena, com algumas falhas duanescas no sinal...

Ryan McGinley

Putz... Esse cara é muito bom. Muito bonito o trabalho dele, muito forte. Muito punk até!

Tem mais aqui ó

(Clique na imagem para aumenta-la).










Sobre drogas

Acho difícil ter uma opinião concisa e abrangente sobre legalização de drogas no Brasil. Tráfico X Sociedade, Favelas X Asfalto, Violência X Educação social... Todavia, me parece lógico e, sobretudo, urgente que sejam discutidas com seriedade todas as questões que envolvem este processo.

O Brasil é um país que pela sua extensão e por sua imensa variedade sociocultural, dificulta muito a feitura e o processamento de políticas que funcionem aos diferentes lugares. Morando no Rio de Janeiro há quase dois anos, constato que muitas das relações morais, culturais, sociais, enfim, construídas ao longo da minha vida em Minas Gerais não fazem muito sentido por aqui. Muito menos em Salvador. O que dirá no Acre ou Amapá...

A questão da droga no Brasil encontra alguns grandes obstáculos. Um enorme é a falta de informação; o fato do Brasil ainda ter uma farta porção da sua população iletrada, e uma outra imensa porção letrada, porém sem senso crítico, envolvidas calorosamente pelos veículos de informação burros, sensacionalistas...

“A Marcha da Maconha, marcada para se realizar nos dias 2, 3 e 9 de maio, em 14 cidades brasileiras, foi proibida em São Paulo, Salvador e João Pessoa e pedido do Ministério Público. A sugestão é de que a marcha induziria ao uso de drogas, o que é crime.” (blog do Pedro Doria)

Acho -por mais que tenha preguiça- importante a Marcha. Assim como o dia GLSBT. Está colado nestes movimentos uma espécie de impacto brutal contra as crenças da sociedade que valorizo. Este impacto possibilitou muitas das grandes mudanças sociais nos séculos passados, sobretudo no século XX (feminismo, movimento negro, movimento homossexual...). No entanto, também sinto que as questões precisam ser resolvidas com mais urgência. É necessário que os governos se voltem com mais atenção para estas questões, e que a sociedade se organize e se informe.