sábado, 25 de julho de 2009

Você trocaria sua biblioteca por um Kindle?



É engraçado pensar sobre a relação entre o material e o virtual. ‘Com a coisa da internet’, muitos dos nossos conceitos sobre todo o mundo mudou. E ainda mais profundamente, nossa relação ritualística com o mundo e suas coisas, tornou-se completamente diferente.

Não quero entrar no mérito da discussão antropológica e sociológica dos valores materiais agregados. No entanto, quero tentar pensar na refuncionalização do mundo quando as “coisas” passam a ocupar espaços comuns.

Hoje se ouve música, lê um livro e vê filmes (para citar apenas algumas poucas ferramentas) num só espaço. E daqui a pouco tempo, essas coisas estarão num mesmo browser dialogando, de certo modo, entre si. (Já ouviram falar do Waves?)

Eu não sou contra quem faz uso da internet pra tudo. Eu, inclusive, sou uma dessas pessoas que se tornou dependente do computador e da internet para viver. Mas, em muitos momentos, sinto falta dos rituais que acompanhavam a audição de um disco, por exemplo.

A questão mais profunda hoje se relaciona com a nossa percepção do tempo. Tem-se sempre a impressão que estamos vivendo num mundo mais corrido, numa vida mais rápida. E, sinceramente, acho que tudo isso é no fundo balela de nós mesmos.

Não discuto sobre a noção de tempo e a profusão de informação. De fato, a necessidade de obter informação, e em decorrência disso, adquirir toda a adaptação necessária no mercado de trabalho, na vida social, nos faz direcionar o tempo de uma forma diferente. Mas, não acredito nas pessoas, e em mim também, quando ouço frases do tipo:

“_Não existe mais tempo para ouvir um disco inteiro.”
“_Não tenho tempo para cozinhar minha própria comida.”
“_Não dá pra ir de bicicleta, ou a pé. Só de carro.”

Por outro lado, acho profundamente reacionário o papo de que estamos caminhando para trás ao assumirmos essa “vida corrida”. Os tempos mudaram, a vida mudou, os rituais estão se transformando. E o mais engraçado é que, por mais que tenham internalizado características individualizantes, mantém uma perspectiva socializante muito forte.

O que acredito atualmente é numa suposta liberdade de escolha. Você pode ter seu Kindle e ler e-books, ouvir MP3 e ter uma coleção de vinis... Enfim, parece-me que os dois sistemas centrais, o sistema econômico e o sistema social, caminham para uma grande intervenção democrática, que prevê escolhas particulares e universais menos excludentes. Sim! Este argumento é perigoso! Eu sei... Não iremos falar disso agora. Mas tenho essa impressão.

Por ora, gosto de pensar que poderemos escolher. Que vivemos a liberdade de escolhas. Por ora, sou feliz por meu tempo.

Um comentário:

  1. César, acho que é por aí, liberdade de escolha! Eu não abro mão de meus livros, que ocupam espaço, atraem pragas, são frágeis, etc. Por outro lado, se precisasse de um livro para consulta por exemplo não descartaria a hipótese de um Kindle. Um dicionário multilíngue em viagens por exemplo. Aqui eu escrevi alguma coisa sobre isso: http://www.overmundo.com.br/overblog/livro-em-decomposicao
    Abraços meu velho

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