quinta-feira, 26 de março de 2009

Algumas coisas que andam rondando minha cabeça




Resiste no Brasil uma estranha falta de relação com a memória (na sua acepção histórica e formadora de identidade nacional). No sentido de que um povo existe pelo conjunto de símbolos que ele coleciona, parece-me que no Brasil convivemos com uma dicotomia.

Sinto-me profundamente seduzido pela ideia de que a estranheza na formação do Brasil conferiu atributos à necessidade do esquecimento.

“(...) o Brasil é um nome sem país. Os colonizadores ingleses deixaram a impressão de ter roubado o nome geral do continente para o país que fundaram. Os portugueses não parecem ter chegado a fundar um país propriamente, mas deram um jeito de sugerir que não aportaram a uma parte da América e sim a uma totalidade absolutamente outra a que chamaram Brasil.” (Caetano Veloso - Verdade Tropical. Pg. 14)

No entanto, desde que a modernidade chegou por aqui com suas “obrigações globalizantes”, a necessidade de adquirir memória tornou-se urgente.

Ao admitir que é iminente uma democratização por meio dos diferentes aparatos socioculturais nos países de terceiro mundo, admite-se também, a necessidade de ‘formulação da memória’.

Passeando pelo site Slow Food Brasil, percebi o quanto isto vem acontecendo e quanta gente está envolvida. Mais do que um movimento contra o projeto urbanóide e corporativista de vida e, por conseguinte, de alimentação, estas pessoas buscam reatar noções básicas do trato com a vida. Um trabalho quase antropológico com forte eco na discussão sobre formação de identidades nacionais. Sempre achei absurdo que não houvesse uma ampla pesquisa no Brasil com relação à comida, ao artesanato, aos diferentes fazeres que geraram a longa existência de comunidades e povos.

Trabalho semelhante, um tanto mais político e, até mesmo, engajado, é o de Vandana Shiva, a ecofeminista, figura central no movimento antiglobalização e ativista ambiental da Índia. Ela é diretora da Research Foundation for Science, Technology, and Ecology, em Nova Déli, segundo ela "um nome muito longo para um objetivo muito humilde, que é o de colocar a pesquisa efetivamente a serviço dos movimentos populares e rurais, e não apenas fazer de conta que estamos ajudando-os". Entre suas atividades mais recentes, incluem-se iniciativas de ampla divulgação para a preservação das florestas da Índia, luta em favor das sementes como patrimônio da humanidade e programas sobre biodiversidade dirigidos a diferentes coletividades, além de pesquisas para o desenvolvimento de uma nova estrutura legal para os direitos de propriedade coletivos, como alternativa para os sistemas de direitos de propriedade intelectual atualmente em vigor.

Putz! Que trabalho! Vale a pena conhecer:

*Slow Food Brasil.


* Research Foundation for Science, Technology, and Ecology

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